domingo, 7 de novembro de 2010

Equilibrio

O mundo é pequeno, usando um meio de transporte para tal adequado, é possível ir de onde quer que estejamos para qualquer outra parte do planeta em menos de 24 horas, e o mundo, pelo menos para os que lerem este pequeno texto( quer dizer que estão a usar a Internet) é informado, podemos saber quantas décimas se alterou o NASDAQ, o estado do tempo em numa qualquer província chinesa, as coordenadas geográficas que qualquer pedaço de Terra ocupa no GPS, o drama daquela mãe no Quénia que viu os filhos morrer de fome, ou ver em live streaming um canal de televisão coreano. O mundo é também injusto, sentimo-nos injustiçados/ injustiçadas todos os dias pelas mais diversas razões, ou por termos um carro já com uns anos e gama média baixa enquanto que o nosso vizinho tem um descapotável novo, ou porque até trabalhamos mais e com melhor eficácia que a nossa colega de trabalho, mas ela é que é promovida porque trabalha melhor debaixo da secretária do chefe, ou porque os impostos estão muito altos, ou porque não nos dão a atenção e o valor que merecemos, ou porque enquanto uns comem mousse de chocolate caseira outros definham e morrem de fome, ou ainda porque temos uma grande predisposição para engordar e temos que diminuir os doces.
A verdade é que algumas injustiças vão haver sempre, nem todos podem ser ricos, pelo menos monetariamente, mas haverá sempre milionários, vamos sempre sentirmo-nos injustiçados, desvalorizados e usados por vezes, e os favores sexuais ou de outro índole a troco de "compensações" irá sempre ocorrer e normalmente de forma impune, e muitas vidas continuarão a ser tiradas "antes do tempo" porque viver é a actividade mais fantástica, mais mágica e mais perigosa que conheço. Mas essas injustiças, grandes ou pequenas, remediáveis ou não, mesmo quem não as aceita, deve entende-las como inevitáveis há frágil condição Humana, agora permitir que num mundo pequeno, informado e tendencialmente injusto, crianças, mães, pais e avós, morram e vejam morrer, de fome, sede e doenças para as quais a cura está na farmácia ao nosso lado, permitir que se pratique a mutilação genital feminina ou que se queimem mulheres vivas apenas porque apetece aos maridos, ou que Homens escravizem Homens, com estas injustiças nós podemos viver, mas não temos que viver ou compactuar com elas, nestes casos, a escolha é nossa.
Claro que não deixa de ser verdade que as pessoas a quem estas "injustiças" acontecem também têm governos próprios que, mais que qualquer outra entidade têm o dever de se preocuparem com o seu povo, claro que existem organizações não governamentais(ONG) que se encarregam de acorrer a estas gritantes injustiças, claro que os países ditos desenvolvidos, bem como muitos de nós, todos os anos disponibilizam alguns milhões de dólares ou euros para as referidas ONG, mas tudo isto se têm revelado tristemente insuficiente. E o que podemos fazer mais então, podemos, por exemplo, propor aos países que deixam as suas crianças morrer de fome, e visto que mais que falta de dinheiro ou comida, o problema são os governos absolutamente corruptos e ineficientes, a ignorância e os grupos de milícas armadas, que permitam que parte das crianças lá nascidas sejam, com o consentimento dos pais, trazidas para o mundo Ocidental onde lhes serão assegurados cuidados de saúde, educação, alimentação e protecção. Com tal medida apesar da despesa inicial a fraca natalidade que assola o mundo ocidental seria atenuada, as crianças teriam uma vida, o contacto com os pais biológicos seria mantido,se possível, e quando adultas poderiam, se assim o desejassem e por certo aconteceria com algumas delas, voltar à sua terra natal, e com a educação que receberam, lutarem para ser a próxima classe governante, e assim se mudariam mentalidades, enquanto que outras continuariam a viver no ocidente que as acolheu, promovendo assim a viabilidade populacional deste. Infelizmente esta é a única forma que vejo de o mundo ocidental ajudar efectiva e eficazmente o mundo em desenvolvimento, porque a ignorância( deles) e a ganância(nossa) são os maiores de todos os males, pelo que apenas um "equilíbrio" doloroso e ainda injusto, mas teoricamente vantajoso economicamente para ambas as partes me parece viável.
Mais difícil ainda é talvez acabar com as "injustiças" que não envolvem necessidades fisiológicas básicas( fome, sede, saúde), pois as restantes injustiças com as quais podemos efectivamente acabar, mais do que ao dinheiro ou à corrupção, estão ligadas ao que é socialmente aceite, se uma sociedade aceita, aprova e executa, a mutilação genital feminina, a escravatura, a queima de mulheres vivas, quanto a estas problemáticas infelizmente os governos ocidentais pouco ou quase nada vão fazer porque não têm ganhos efectivos em mudar tais comportamentos ( sendo que tal mudança para ser rápida provavelmente envolveria a guerra), e nós sociedade civil, infelizmente muito pouco fazemos ou podemos fazer, deveremos esperar que lá chegue a Internet generalizada, a educação básica em larga escala, um governo sensato, e assim, os costumes mudem no espaço de uma geração ?, aceitar que estamos mesmo condenados à barbárie?, simplesmente não pensar nestas pessoas já que o "mal" delas é praticamente insignificante no nosso PIB e nos mercados da bolsa?, sugestões esperam-se.

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