sábado, 27 de novembro de 2010

Nilo

Ver-te e nada dizer,
É roubar e nada ter,
O mundo é só meu, para ser sozinho,
É-o enquanto existo, e sigo o caminho,
É-o porque o amor, não é o que julga ser,

Não voltarei a dizer tal palavra,
Que não se pode explicar em palavras,
É diferente para toda a gente,
E todos a dizem de repente,
Para mim isto ou aquilo chega bem, palavra

O maior rio é o Nilo, a perfeição era aquilo,
Se a pudesse abraçar,
Mas a vida não pára, não pode parar,
É como a água do Nilo,
Só vive para passar, que se lixe o par,

domingo, 21 de novembro de 2010

Criança Soldado

No outro dia fui a uma conferência organizada pela Amnistia Internacional com uma criança soldado como oradora, chamou-me a atenção o tema porque muito pouco sabia sobre ele.
Chama-se China Keitetsi, e quando tinha 9 anos a mãe aceitou "dá-la" ao exército dado que era a única forma de lhe garantir comida, e de certa forma, "um futuro", como era uma rapariga num mundo de homens, além de ser obrigada a matar e a ver morrer, foi desde cedo violada por muitos dos membros do exército a que pertencia, teve um filho aos 14 anos, e aos 16 fugiu do Uganda para a África do Sul quando estava grávida do segundo filho, deixando o primeiro filho para trás,para assim conseguir fugir, só fugir de tudo aquilo lhe interessava naquela altura, e parece-me complicado e desumano censura-la por isso. Acabou por conseguir vir para a Dinamarca e agora passa dias em palestras a alertar para aquela que aos 9 anos se tornou a sentença e a causa dela.
Mas o que de facto me leva a escrever aqui sobre ela, sobre a sua história, sobre o que lhe fizeram e sobre aquilo a que a condenaram e tentaram condenar, é o surpreendente ser humano em que acabou por se tornar. A lição que julgo que foi dada a todos os presentes naquela sala, foi que temos todos o dever de à nossa maneira ser felizes, China passou por tudo aquilo e sorria de forma despretensiosa, diz não guardar ódio a ninguém por tudo o que lhe fizeram, não por perdoar ou esquecer ou ser magnânima, mas apenas, e disse-o de forma simples, desarmante e sincera, porque odiar só lhe faria pior a ela mesma. E assim percorre agora o mundo, não por ódio, por dor ou por revolta, mas por uma causa que acredita poder ajudar, claro que a dor por lhe terem roubado a infância nunca desaparecerá, mas haverá melhor "vingança" que ajudar a impedir que se façam as mesmas atrocidades de novo enquanto sorri e ama a vida que ainda tem.
A estupidez humana pode de facto não ter limites, mas a vontade de viver e de uma forma surpreendente e peculiar amar neste planeta tão belo, parece também não os ter.
Resta-me acrescentar que depois da conferência, e de perceber que a Amnistia Internacional, pode não fazer milagres, mas deseja-os, luta por eles, promove-os e divulga-os, tornei-me sócio da Amnistia, o facto da colaboradora que me angariou ser engraçada apenas acelerou o processo de decisão.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Grande noite?

Acabei agora de chegar a casa, não estou bem lúcido ainda, umas cervejas e uns copos de vinho alteraram-me a percepção e a escrita, mas escrevo aqui sobre esta noite, escrevo porque me apetece, e sei que ninguém lê, os que lêem não ligam, quem liga não lê.
Jantei com amigos e colegas e com os palestrantes do congresso que hoje ajudei a organizar, foi engraçado, treinei o Inglês. Eu e uns amigos meus fizemo-nos de convidados para ir passar umas duas semanas com os palestrantes de hoje a Londres e a Birmingham, onde eles fazem investigação, e eles adoraram a ideia, o que é bom, e em Fevereiro lá vamos nós. Os tais palestrantes apesar de serem investigadores conceituados e com provas dadas, mostraram uma "simplicidade" difícil de encontrar até em classes sociais mais baixas, e coloco simplicidade entre aspas porque não é bem simplicidade, é algo entre a classe, dado que não precisam de arrogância para se afirmarem, e a nostalgia, porque tal simplicidade fá~los sentir-se como estudantes desconhecidos que já foram, e como almas livres da claustrofobia dos horários, dos tubos de ensaio, das pipetas e dos resultados, que talvez já não voltem a ser, pelo menos enquanto valer a pena.
Depois de jantar fomos a dois bares ainda, passámos lá grande parte da noite, contámos piadas, divertimo-nos, dançámos, bebemos uns copos, falámos de música, cinema, e "fragrâncias", cantámos, e fomos embora depois, vim para casa com uns amigos meus, e ainda fizemos uma after hours junto ao carro de um deles com um sistema de som engraçado e em frente a minha casa, acabei por entrar em casa à pouco, e lembrei-me novamente da diversão dos palestrantes ao jantar, da nostalgia, da simplicidade que era mais saudade e desejo, percebi aquilo que faltou esta noite, aquilo que as memórias exageradas, diluídas, confusas ou inventadas nunca lhe trarão, e percebi que tal como eles, talvez estivesse condenado à nostalgia daquilo que a vida melhor esconde e guarda, ou talvez adie,e perca mesmo, mas nada se perde par sempre certo?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Casablanca

Revi hoje o Casablanca num clube de cinema e desta vez, apenas desta vez, o melhor do filme foi a forma com o Rick (Humphrey Borgat), por um sentimento que não é amor, nem ódio, nem altruísmo ou dor,talvez nem seja um sentimento até, deixou e incentivou a Ilsa(Ingrid Bergman) a partir sem ele, mas com o outro, sabendo ou pelo menos julgando saber que nunca a veria de novo, perdendo assim naquele efémero momento em que o avião descola e se perde no horizonte, tudo aquilo pelo qual vale a pena viver, e digo o melhor do filme, mas o pior para ele.

Acaso

A todo o momento milhares e milhares de átomos colidem entre si, passando nesse momento a haver partilha de electrões entre ambos, o que os torna mais estáveis e com as camadas externas mais completas, e de entre todas as possibilidades de colisão que tinham, algumas mais prováveis, outras que teriam ocorrido mais cedo se não fossem movimentos aleatórios de última hora, e outras ainda que já estavam em rota de colisão eminente até outro átomo também em movimento aleatório colidir com um deles primeiro, a isto chama-se de forma comum, teoria do caos, e nós aceita-mo-la facilmente para os átomos mas para nós preferimos usar a palavra destino.
Quando conhecemos alguém (e o conhecemos pode ser, metaforicamente ou não trocado por colidimos) e essa pessoa se torna "especial"* para nós, acabamos muitas vezes a pensar que nada é por acaso, que se ela tivesse saído de casa 2 minutos mais cedo não teria perdido o autocarro naquele dia, tendo que esperar 20 minutos pelo seguinte, o que implicou que tivesse que correr depois de sair do autocarro para não chegar demasiado atrasada, que por causa de correr de saltos "quase altos" acabou por tropeçar e que por acaso quem a ajudou a levantar-se naquele momento não foi um rapaz engraçado mas sim uma senhora idosa simpática, e que depois de atravessar a estrada sem olhar tendo sorte por não ser atropelada, e tendo continuado a correr acabando por "colidir" connosco(um qualquer de nós) e deixando um monte de folhas cair ao chão as quais prontamente a ajudámos a apanhar servindo assim de pretexto para aquela primeira conversa rápida e falsamente despretensiosa, nunca a teríamos conhecido e algo assim tão improvável, digno para ser adaptado ao cinema até, não pode ser obra do acaso. Esquecendo-nos que se ela não tivesse perdido o autocarro podia por um outro conjunto de acasos qualquer ter vindo a conhecer outro rapaz por quem, por força desse mesmo acaso a que os que têm coração chamam destino, acabaria por cair de amores, enquanto nós se ela não tivesse chocado connosco naquele momento podíamos ter sido contemplados com algum acaso que levasse aquela rapariga gira para quem estávamos a olhar antes de "colidirem" connosco (sim porque ela, vamos chamar-lhe Madalena, só colidiu mesmo connosco porque estávamos distraídos a olhar para outra) a tornar-se na mulher da nossa vida (senão para sempre, pelo menos por algum tempo).
Mas acontece que temos uma capacidade quase insana de "romantizar" a vida, de acreditar que o amor não surgiu de um mero acaso, e talvez seja essa a forma mais Humana de viver, talvez só essa forma de olhar e perceber o Mundo tenha permitido as mais belas frases de amor, e vidas inteiras de monogamia, e por isso eu acredito no destino, quer dizer, sou obrigado a acreditar, porque a verdade em última instância é aquilo em que acreditamos.

*(Podia definir especial segundo a definição matemática mais recente, que implica pensar nessa pessoa pelo menos 2 horas por dia, mas isso implicaria ser demasiado nerd)

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Tenra Infância

Aquelas recordações mais antigas, puras, belas e entorpecidas que temos, será que aconteceram mesmo como as recordamos, será que nos esqueceremos delas quando formos mais velhos e as ligações sinápticas começarem a falhar, será que as romantizamos e exageramos já hoje, será que ambos recordamos da mesma forma o que verdadeiramente aconteceu, ou será que existem muitas verdades para o mesmo passado, o destino não existe, nisso nem coloco um "será", mas e o "Es muss sein", nisso eu acredito e ainda não conheço o meu, qual é afinal o poder da memória, e do talvez acaso, e para que serve a verdade, será que ela se lembra?

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Temporal

Está uma noite de temporal lá fora, e com uma noite assim sabe tão bemum chocolate quente tomado ouvir o Swingin lovers do Frank Sinatra, e agora está na hora de ir dormir que os compromissos da manhã da bonança não esperam,podia falar aqui do porquê de saber tão bem o temporal do lado de fora, mas hoje não,

domingo, 7 de novembro de 2010

Equilibrio

O mundo é pequeno, usando um meio de transporte para tal adequado, é possível ir de onde quer que estejamos para qualquer outra parte do planeta em menos de 24 horas, e o mundo, pelo menos para os que lerem este pequeno texto( quer dizer que estão a usar a Internet) é informado, podemos saber quantas décimas se alterou o NASDAQ, o estado do tempo em numa qualquer província chinesa, as coordenadas geográficas que qualquer pedaço de Terra ocupa no GPS, o drama daquela mãe no Quénia que viu os filhos morrer de fome, ou ver em live streaming um canal de televisão coreano. O mundo é também injusto, sentimo-nos injustiçados/ injustiçadas todos os dias pelas mais diversas razões, ou por termos um carro já com uns anos e gama média baixa enquanto que o nosso vizinho tem um descapotável novo, ou porque até trabalhamos mais e com melhor eficácia que a nossa colega de trabalho, mas ela é que é promovida porque trabalha melhor debaixo da secretária do chefe, ou porque os impostos estão muito altos, ou porque não nos dão a atenção e o valor que merecemos, ou porque enquanto uns comem mousse de chocolate caseira outros definham e morrem de fome, ou ainda porque temos uma grande predisposição para engordar e temos que diminuir os doces.
A verdade é que algumas injustiças vão haver sempre, nem todos podem ser ricos, pelo menos monetariamente, mas haverá sempre milionários, vamos sempre sentirmo-nos injustiçados, desvalorizados e usados por vezes, e os favores sexuais ou de outro índole a troco de "compensações" irá sempre ocorrer e normalmente de forma impune, e muitas vidas continuarão a ser tiradas "antes do tempo" porque viver é a actividade mais fantástica, mais mágica e mais perigosa que conheço. Mas essas injustiças, grandes ou pequenas, remediáveis ou não, mesmo quem não as aceita, deve entende-las como inevitáveis há frágil condição Humana, agora permitir que num mundo pequeno, informado e tendencialmente injusto, crianças, mães, pais e avós, morram e vejam morrer, de fome, sede e doenças para as quais a cura está na farmácia ao nosso lado, permitir que se pratique a mutilação genital feminina ou que se queimem mulheres vivas apenas porque apetece aos maridos, ou que Homens escravizem Homens, com estas injustiças nós podemos viver, mas não temos que viver ou compactuar com elas, nestes casos, a escolha é nossa.
Claro que não deixa de ser verdade que as pessoas a quem estas "injustiças" acontecem também têm governos próprios que, mais que qualquer outra entidade têm o dever de se preocuparem com o seu povo, claro que existem organizações não governamentais(ONG) que se encarregam de acorrer a estas gritantes injustiças, claro que os países ditos desenvolvidos, bem como muitos de nós, todos os anos disponibilizam alguns milhões de dólares ou euros para as referidas ONG, mas tudo isto se têm revelado tristemente insuficiente. E o que podemos fazer mais então, podemos, por exemplo, propor aos países que deixam as suas crianças morrer de fome, e visto que mais que falta de dinheiro ou comida, o problema são os governos absolutamente corruptos e ineficientes, a ignorância e os grupos de milícas armadas, que permitam que parte das crianças lá nascidas sejam, com o consentimento dos pais, trazidas para o mundo Ocidental onde lhes serão assegurados cuidados de saúde, educação, alimentação e protecção. Com tal medida apesar da despesa inicial a fraca natalidade que assola o mundo ocidental seria atenuada, as crianças teriam uma vida, o contacto com os pais biológicos seria mantido,se possível, e quando adultas poderiam, se assim o desejassem e por certo aconteceria com algumas delas, voltar à sua terra natal, e com a educação que receberam, lutarem para ser a próxima classe governante, e assim se mudariam mentalidades, enquanto que outras continuariam a viver no ocidente que as acolheu, promovendo assim a viabilidade populacional deste. Infelizmente esta é a única forma que vejo de o mundo ocidental ajudar efectiva e eficazmente o mundo em desenvolvimento, porque a ignorância( deles) e a ganância(nossa) são os maiores de todos os males, pelo que apenas um "equilíbrio" doloroso e ainda injusto, mas teoricamente vantajoso economicamente para ambas as partes me parece viável.
Mais difícil ainda é talvez acabar com as "injustiças" que não envolvem necessidades fisiológicas básicas( fome, sede, saúde), pois as restantes injustiças com as quais podemos efectivamente acabar, mais do que ao dinheiro ou à corrupção, estão ligadas ao que é socialmente aceite, se uma sociedade aceita, aprova e executa, a mutilação genital feminina, a escravatura, a queima de mulheres vivas, quanto a estas problemáticas infelizmente os governos ocidentais pouco ou quase nada vão fazer porque não têm ganhos efectivos em mudar tais comportamentos ( sendo que tal mudança para ser rápida provavelmente envolveria a guerra), e nós sociedade civil, infelizmente muito pouco fazemos ou podemos fazer, deveremos esperar que lá chegue a Internet generalizada, a educação básica em larga escala, um governo sensato, e assim, os costumes mudem no espaço de uma geração ?, aceitar que estamos mesmo condenados à barbárie?, simplesmente não pensar nestas pessoas já que o "mal" delas é praticamente insignificante no nosso PIB e nos mercados da bolsa?, sugestões esperam-se.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Rede

Fui hoje ver o tal filme sobre o facebook, ou melhor, sobre o criador do facebook e a sua solidão, e antes de mais elogiar o mais uma vez grande trabalho de David Fincher que sempre nos habituou ao melhor.
O que me leva contudo a escrever aqui sobre o filme é a extraordinária forma como o filme retrata a actual condição humana, claro que a "condição" a que me refiro é levada ao extremo no filme pelo protagonista e criador do já referenciado facebook (Mark Zuckerberg), o qual é milionário, famoso, tem milhares de amigos no facebook, mas no cada vez mais esquecido "mundo real" desprezou e passou por cima de quem gostava realmente dele e de quem confiou nele, acabando assim a programar exaustivamente e a fazer refresh em páginas do facebook, e por trás de um monitor de computador não está nada senão cristais líquidos, plástico e metal, sendo que à frente normalmente estamos nós sozinhos e mal sentados.
Mas agora vejamos, grande parte de nós tem facebook, passa horas e horas há frente de monitores( todo o tipo de monitores)e ou já é ou tem o objectivo de ser rico, objectivo este que apesar de ser do conhecimento comum que num mundo real e sustentado só uma pequena parte da população pode ser rica, e de tantos não terem sequer o mínimo para sobreviver, é moralmente aceite e encorajado.
Esclarecer apenas que eu não tenho nada contra quem se tornou completamente dependente de monitores cheios de letras e cores que mudam e que emitem uns sons engraçados, nem contra quem já é ou tem como principal objectivo de vida ser rico, apenas me preocupa uma Humanidade assente nesses paradigmas, porque tal não é minimamente realista e sustentável.
Julgo ainda, e concluindo este meu raciocínio meio "desfocado" pela hora avançada, que a maioria de nós ao ver o referido filme, deseja profundamente ter o poder, e o dinheiro, do já referido e ainda jovem presidente do facebook, dizendo para nós mesmo que se tivéssemos o dinheiro dele, continuaríamos com os nossos amigos de sempre, não iríamos querer mais e mais dinheiro e que com um bocado de sorte ainda mandávamos uns cheques para a caridade em África, o que nos tornaria quase iguais ao protagonista, sendo que o que separa o "quase" do "iguais" é a nossa imaginação e o que julgamos de ânimo leve e profundamente optimista que faríamos e que aconteceria, e o que me assusta mais, é que eu fui dos que pertenceu a essa "imaginada maioria".

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Tons

Olhei-te bem nos olhos, e mantive o olhar fixo, procurei descobrir e saber quem eras,estava próximo de ti, já não conseguia sequer ver o branco individualizado dos olhos,via apenas a junção entre a esfera verde de tantos tons e certezas e o pequeno circulo absolutamente preto que só atrai incertezas e parecia não ter fundo agora, não conseguia individualizar as certezas da cor, cada tom um pensamento, uma certeza, mas a esfera preta mais que certezas ia dar-me a verdade, bateu a luz do Sol, o verde clareou, os tons pareciam mais ainda e sedentos de vida, o preto encerrando a verdade permanecia igual, o Sol fazia-nos hesitar e fechar os olhos, e quando fechei os meus, depois de tanto ver os teus,soube quem era.

Vida

O veneno mais poderoso tem como cura a própria morte, por isso me enveneno todos os dias, enquanto espero pela cura, e a própria tristeza, e o próprio medo, mesmo o ódio, mais não fazem que me afastar da cura, e a dor, a maldita dor, desperta ainda mais a vontade de partir, não desta vida, mas apenas da que não tive,e podia ter tido, nisso reside o veneno, na dor, reside a vida.

Percepção

Esta noite passei junto ao hospital de S.João, ia a passo acelerado e estava atrasado, contudo reparei nas centenas de janelas, quase todas com luzes acesas que se iam apagando aos poucos,havia uma ou outra que se ia iluminando também, tudo me parecia livre de Humanidade, e contudo os hospitais são talvez os sítios que mais fazem por prolongar a vida humana, ocorreu-me que o corpo é a nossa maior prisão, e quando algo falha nele, nessa prisão, resta-nos perder a humanidade ou a vida, claro que é injusto dizer que é desumano o sitio onde tantos depositam amor, esperança, e a própria vida, mas aquilo que nos torna humanos é mais efémero e transitório que tudo o resto, é o corpo que temos, até funcionar. Por isso não querendo ter pena tive medo, vi ainda um vulto surgir numa das janelas iluminadas, e acenei, claro que não me viram do lado de lá, mas se perder a humanidade antes da vida ainda, deve saber bem que me acenem, e depois segui, que hoje estava atrasado.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Janela

Esta noite, já tarde, depois de ter passado o temporal, vejo o céu da minha janela, está incrivelmente límpido, tudo se foi menos a lua, as estrelas e um avião a piscar, e assim no fundo de mim, esquecendo todas as consequências desejo que a luz da cidade se vá e procuro quem deseje igual.

A política que temos, a política que mercemos

Bem, antes de mais tudo o que me ocorre dizer sobre os nossos políticos, é tudo uma cambada de sacanas,corruptos e chupistas, agora o problema é, então e o povo Português, que tem feito?, porque o problema maior é que onde há culpados, não há inocentes.
Temos compactuado com todos os governos, e quem compactua torna-se cúmplice, e mais que isso quem vota neles, quem os elege, somos nós, claro que podemos alegar várias coisas, podemos alegar que eles traíram a nossa confiança, sim podemos, só que não nos podemos esquecer dos muitos milhares de todos nós que fogem aos impostos, têm empresas e consultórios ilegais, recebem subsidio de desemprego e trabalham meio às escondidas em outro lado qualquer, ou passam cheques sem cobertura, ou se endividam com recurso a crédito muito além das suas possibilidades, sempre, em todos os casos, com a ideia que o estado tem a absoluta obrigação de cuidar deles e de se preocupar com todos eles, e assim de qualquer uma destas formas, traem a confiança dos que nos governam.
Podemos também alegar que não sabíamos, que somos ignorantes, que eles é que sabem, e logo a culpa é deles, mas o problema é que a ignorância não é desculpa, a ignorância pode ser felicidade, pode ser uma forma de liberdade, pode ser o maior de todos os males, pode ser o que bem entenderem, mas não é desculpa, não pode desculpabilizar ninguém, todos temos o direito de aprender, e mais que isso a ignorância não nos impede nunca de agir correctamente.
Depois há quem alegue que fazia diferente, que fazia melhor que os nossos governantes se lá estivesse, que é mais sério, mais capaz e menos corrupto, e bem sei que há grandes técnicos, grandes Homens, gente extremamente bem informada, preparada e capaz neste país, mas então porque não vão eles para o governo, porque não concorrem, porque não tentam, porque não fazem isso pelo Portugal em que acreditam?, quando confrontados com essa possibilidade alguns lá vão dando um pouco o braço a torcer e acabam por dizer que não têm estofo, que não gostam da exposição mediática, que onde estão ganham mais e têm menos responsabilidade e pressão social, que precisam de tempo para a família, ou que têm medo de andar de avião e essa vida iria exigir muitas viagens grandes, usam assim todos os argumentos possíveis, e não nego que reais e respeitáveis para não se sacrificarem pelo país, pelo país que tanto criticam os que nos governam de não fazerem nada por ele e só se preocuparem com eles. E há ainda aqueles que não admitindo nenhuma destas fragilidades, dizem apenas que nem sequer concorrem porque neste país só ganha eleições quem mente, quem tem uma grande máquina partidária por trás, e quem é corrupto, ou seja insultam assim a capacidade do povo, ao qual eles próprios pertencem, de decidir em consciência a melhor opção, desistem sem ir à luta, sem tentar sequer, e do alto do importantes e intelectual e moralmente superiores que se julgam, dizem mal apenas.
Há ainda os sindicatos, grevistas profissionais, e os extremistas pseudo-revolucionários de peito inchado, os quais organizam, patrocinam e participam em greves e outras festividades enquanto assobiam para o lado, dizem bem alto que tudo está mal e o estado que resolva rápido para evitar "birras maiores". O problema, que os que apenas participam não sabem e os ilusionistas que patrocinam não querem dizer, é que uma greve ou uma manifestação é normalmente um dos espectáculos mais tristes e incompletos que pode ocorrer, senão vejamos, elegemos livremente( quem não votou ou votou em branco também não pode ser desculpabilizado pois a não ser que viva completamente à margem do estado e de qualquer beneficio ou facilidade que o estado lhe proporciona tem o dever moral de se tentar eleger se acha do alto da sua superioridade moral e intelectual que nenhum dos candidatos merece a consciência do seu voto) 230 deputados para nos representarem no parlamento, sendo que o partido com mais deputados é depois convidado a formar governo, ao qual depois de um já típico período de estado de graça passamos normalmente a chamar de corrupto e chupista, e passamos a revoltar-mos contra aqueles que nós, ou a maioria, elegemos. E o problema é que quando chegamos a tal estado de insatisfação, exigimos mudança, mas com que direito podemos nós exigir aos nossos semelhantes, a cumprir, bem ou mal, o mandato que lhes confiámos, algo mais que não seja a nossa liberdade, e a liberdade não se conquista com greves ou revoluções, a liberdade conquista-se desobedecendo ao estado e obedecendo apenas à nossa consciência, com todos os problemas e consequências que tal implica, mas nem os grevistas profissionais, nem os extremistas pseudo-revolucionários de peito inchado estão dispostos a isso.
E por fim há talvez as únicas vitimas no meio de tudo isto, as crianças e os atrasados mentais, que na sua inocência para a qual têm desculpa, observam, esperam e aprendem, com quem parece nunca querer aprender ou mudar. E assim digo apenas, para as crianças e para os atrasados mentais, que nenhum governo corrupto, incompetente e chupista, sobrevive muito tempo, num país que mereça melhor.

Objectivos

Bem, a intenção nem sempre corresponde ao que acontece depois, e a verdade escrita não poucas vezes é bem diferente da pensada, mas por aqui passarão por certo todo o género de devaneios e ilusões.

Eterno Retorno

Antes de mais explicar o nome do blog, o "eterno retorno" é uma teoria proposta por Friedrich Nietzsche que, de forma sucinta diz que devido a o tempo ser infinito, ou seja já ter existido uma infinidade de tempo antes do presente, presente depois do qual a infinidade de tempo continuará. E tendo que a realidade tem hipóteses de actuação variadas mas finitas, o bem, o mal, a dor a felicidade a angústia a perda,as vitórias, as guerras, as derrotas, a vida,nós mesmo, tudo isso se há-de repetir e conjugar exactamente da mesma forma um dia, e como o tempo é infinito, tal já aconteceu e há-de acontecer infinitas vezes, pelo que tudo o que pode acontecer, todas as possibilidades já aconteceram, e hão de voltar a repetir-se eternamente no futuro, tudo o que fizemos desde que nos lembramos de existir, tudo o que faremos até morrer, tudo isso se repetirá exactamente da mesma forma e infinitas vezes no futuro, por isso apenas podemos duvidar da eterna repetição daquilo que não fizemos, porque pode não poder acontecer, e o que não pode acontecer não se repete, mesmo num tempo infinito. Pelo que todos os que magoámos, todas as atrocidades que nós ou outros cometemos, todos os massacres, toda a dor que infligimos e nos foi infligida, por tudo isso nós mesmos já passámos e passaremos eternamente e exactamente da mesma forma, agora o que não fizemos, isso talvez nunca o façamos mesmo, por infinitas vezes que tudo se repita.