domingo, 21 de novembro de 2010

Criança Soldado

No outro dia fui a uma conferência organizada pela Amnistia Internacional com uma criança soldado como oradora, chamou-me a atenção o tema porque muito pouco sabia sobre ele.
Chama-se China Keitetsi, e quando tinha 9 anos a mãe aceitou "dá-la" ao exército dado que era a única forma de lhe garantir comida, e de certa forma, "um futuro", como era uma rapariga num mundo de homens, além de ser obrigada a matar e a ver morrer, foi desde cedo violada por muitos dos membros do exército a que pertencia, teve um filho aos 14 anos, e aos 16 fugiu do Uganda para a África do Sul quando estava grávida do segundo filho, deixando o primeiro filho para trás,para assim conseguir fugir, só fugir de tudo aquilo lhe interessava naquela altura, e parece-me complicado e desumano censura-la por isso. Acabou por conseguir vir para a Dinamarca e agora passa dias em palestras a alertar para aquela que aos 9 anos se tornou a sentença e a causa dela.
Mas o que de facto me leva a escrever aqui sobre ela, sobre a sua história, sobre o que lhe fizeram e sobre aquilo a que a condenaram e tentaram condenar, é o surpreendente ser humano em que acabou por se tornar. A lição que julgo que foi dada a todos os presentes naquela sala, foi que temos todos o dever de à nossa maneira ser felizes, China passou por tudo aquilo e sorria de forma despretensiosa, diz não guardar ódio a ninguém por tudo o que lhe fizeram, não por perdoar ou esquecer ou ser magnânima, mas apenas, e disse-o de forma simples, desarmante e sincera, porque odiar só lhe faria pior a ela mesma. E assim percorre agora o mundo, não por ódio, por dor ou por revolta, mas por uma causa que acredita poder ajudar, claro que a dor por lhe terem roubado a infância nunca desaparecerá, mas haverá melhor "vingança" que ajudar a impedir que se façam as mesmas atrocidades de novo enquanto sorri e ama a vida que ainda tem.
A estupidez humana pode de facto não ter limites, mas a vontade de viver e de uma forma surpreendente e peculiar amar neste planeta tão belo, parece também não os ter.
Resta-me acrescentar que depois da conferência, e de perceber que a Amnistia Internacional, pode não fazer milagres, mas deseja-os, luta por eles, promove-os e divulga-os, tornei-me sócio da Amnistia, o facto da colaboradora que me angariou ser engraçada apenas acelerou o processo de decisão.

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