domingo, 13 de março de 2011

Desenrasquemo-nos

Um dia, os jovens deste país, e não só deste país, vão mesmo insurgir-se, vão ser propostas, e mais do que propostas, exigidas mudanças. Vão olhar para um indivíduo de 50 anos num Porche, e ao invés de acreditarem que com trabalho, ou de qualquer outra sonhadora forma, também poderão ter um carro daqueles, vão sentir que têm o futuro hipotecado e previamente escrito e condicionado por alguns dos senhores que agora andam de Porche, e aí vão exigir que a cilindrada dos carros dos papás da crise diminua consideravelmente.
E mais que isso vão perceber que se querem escrever o seu próprio futuro, têm que riscar o que foi escrito, e aqui reside alguma ironia, porque dentro de não muito tempo, vão ser os próprios jovens a exigir que se reformule o serviço nacional de saúde extremamente dispendioso e mal organizado que temos, porque pelo menos neste momento o país não tem dinheiro para tal, que as reformas dos deputados deixem de ser vitalícias ao final de poucos anos, e que a frota de carros de uma pequena elite que come lagosta ao almoço, seja constantemente renovada com o dinheiro dos nossos impostos, que se reduzam e muito as pensões e reformas a partir de um certo montante, e fá-lo-ão porque estão dispostos a encarar uma longa vida de trabalho, a troco de um qualquer razoável emprego e salário, que não lhes leve embora o desejo e a esperança.
Mas, e para não corrermos o risco de os sacrifícios e da crise que já enfrentamos e pagamos todos os dias serem em vão, e caminharmos assim para sacrifícios cada vez maiores, salários cada vez mais baixos, e qualidade de vida cada vez menor, temos que fazer algo mais. E temos que fazê-lo porque a verdadeira revolução está a acontecer em países como a China, eles têm uma mão-de-obra cada vez mais qualificada, que ganha salários, bem mais baixos que os nossos, e que trabalham bem mais horas e fins-de-semana e feriados que nós, e mais que isso não se queixam de assim ser.
E enquanto quem nos governa luta taco a taco contra os juros cada vez mais altos e ridiculamente insuportáveis, vai adiando a entrada do Fundo Monetário Internacional(FMI) no país, tenta não abrir falência e vai colocando de forma mais ou menos discreta um letreiro a dizer vende-se bem no rabo do país, nós vamos ter que resolver o problema, porque afinal, o futuro somos nós. E se não queremos tornar-nos iguais a quem ganha salários de miséria, para trabalhar sem parar, e no fim agradecer, a uma sociedade que os maltrata, obscurece e apenas exige e adormece, e para quem a vida humana tem um valor residual e patético, se não queremos tornar-nos iguais a eles, ou melhor se ainda não nos tornámos nós em tal, temos que fazer com que eles, aqueles que nunca erguem a cabeça, ganhem esperança, coragem, desejo, e uma profunda necessidade, de por uma vez viverem como nós vivemos, amarem como nós amamos, e quererem como nós queremos, e para isso basta sermos Europeus. Basta sorrir quase sempre, encher ruas, vilas, aldeias e cidade, ajudarmo-nos uns aos outros, viajarmos uns com os outros e ficarmos na casa uns dos outros, divertirmo-nos juntos, correr a Europa e o Mundo, e ir tirando fotos inacreditáveis com pessoas memoráveis para celebrar momentos inesquecíveis, e partilhar tudo isso, passar a mensagem boca a boca, por carta, por email, por facebook, por twitter, e ir gritando bem alto apenas através do olhar irreverente de quem sonha. Afinal de contas, ser jovem, da única forma que se pode verdadeiramente ser jovem, que os outros, aqui perto ou lá longe, quando souberem, hão de querer veneno igual.